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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Dia da juventude com Dilma Presidente.

Eu sou da geração que, na juventude, durante os anos 70 e início os 80, lutávamos por liberdades democráticas, portanto pelo fim da ditadura. Nesta luta, junto com o movimento sindical, setores da esquerda, da igreja e da intelectualidade, erguemos o PT, a CUT, o MST, ONGs ligadas aos movimentos sociais, reconstruímos a UNE entre outras entidades democráticas. Levantamos, de forma mais perene, entidades de exercício de poder e representação social ampla, afirmando a democracia no país.

O Partido dos Trabalhadores completou três décadas de existência, numa linha histórica contínua de crescimento político e orgânico, aprofundando sua representatividade e inserção social. Neste período exerceu o poder nas três esferas de Governo elegendo, ao mesmo tempo, bancadas significativas nos três níveis do Legislativo.

A democracia nunca se firmou por períodos maiores na história brasileira, devido ao conservadorismo da sociedade e sua elite política e econômica retrógrada. É a primeira vez na história política do país que um partido de esquerda, democrático, popular e de massas consegue atuar na legalidade durante 30 anos ininterruptos.

A classe dominante e seus Governos nunca permitiram a liberdade ampla de organização dos trabalhadores na sociedade brasileira. Todas as tentativas de organização de organismos de poder e representação política da classe trabalhadora foram violentamente reprimidas. A existência do PT nestes 30 anos foi fundamental para a conquista das liberdades democráticas, assim como a democracia propiciou o fortalecimento do partido.

Os jovens que participaram daquele rico período de luta política hoje são pais e mães de jovens entre vinte e trinta anos. Educaram seus filhos no processo de construção e aprendizado da democracia, legando a essa nova geração entidades democráticas já consolidadas e com atuação ampla na sociedade.

Isto significa que estamos fazendo história. Estamos construindo tradição política que se fortalece através das transformações culturais que a democracia permite. Legamos a gerações seguintes valores, princípios e relações políticas. Tradição significa também memória. Sempre foi afirmado que o povo brasileiro não tem memória, como se fosse uma característica, um defeito, de nosso povo. Na verdade, a chamada falta de memória política era e é fruto da repressão à continuidade da história popular construída coletivamente e contada por entidades democráticas através das gerações.

Ao passarmos às próximas gerações valores, princípios e instituições sociais democráticas, também realizamos no Brasil a chamada transformação cultural.

E, de fato, mudanças culturais só se realizam quando elas são transmitidas às gerações futuras, por meio da história, da livre organização social, da ampla liberdade de expressão e manifestação política, da participação popular e da experiência do exercício do poder democrático. É isto que as esquerdas estão realizando, em grande medida em razão da existência do PT.

Para surpresa e desespero das forças políticas e econômicas do campo conservador as mudanças culturais estão acontecendo, sem controle da repressão política do estado. É a afirmação da bandeira que sempre norteou os jovens: LIBERDADE.

Pelo ineditismo deste legado, a importância da juventude hoje para o PT ganha uma dimensão especial. A juventude da qual fiz parte tinha referência nas lutas das gerações anteriores, porém não herdamos entidades democráticas com experiência de poder. Minha geração não lutou mais ou menos que outras. Mas sem dúvida, a geração dos anos 70 deve ser considerada vitoriosa por ser a primeira que conseguiu confirmar, levantar, preservar e legar – apesar dos ataques sofridos – um partido político com as características do PT.

A responsabilidade do PT com a juventude é imensa. Não podemos perder a oportunidade da construção desta tradição política e continuidade desta experiência de poder. Devemos estabelecer uma relação com a juventude que respeite, entre outros, dois componentes fundamentais da construção política entre as gerações:

a) não somos professores de lições acabadas que os jovens devem aprender como um be-a-bá. Junto com os jovens devemos refletir sobre nossas experiências, erros e acertos, derrotas e vitórias, dentro do contexto histórico em que ocorreram. O legado da tradição política deve ser acompanhado de um permanente releitura da história passada, associada às expectativas e anseios próprios da juventude;

b) Para realizar o pacto geracional é necessário garantir espaços próprios de criação e experiência à juventude, relacionando-se com a história já consagrada das gerações anteriores. Tradição não significa manutenção conservadora de valores e princípios. A tradição incorpora o processo de permanente releitura e reelaboração dos valores construídos, sem repressão às transformações que os novos momentos históricos impõem socialmente num contexto de ampla liberdade política, e somente com ela construímos memória e tradição.

Assim a juventude de nossos dias, ao contrário daquela de que fiz parte, tem o privilégio de receber este legado político que é o PT e - com este instrumento já construído, mas nunca acabado - renovar-reconstruir-revolucionar com os princípios da democracia e liberdade.

Em praticamente todas as civilizações na história da humanidade, os jovens demonstraram potencial para ações de transformações sociais. Juventude e revolução sempre caminharam juntas. Na busca de construir-se como ser social e humano, o jovem sempre procura derrubar as barreiras e superar os limites sociais impostos.

É próprio da vida, (e aqui falo de toda vida biológica) buscar sempre mais espaços, expandir-se, e interferir na cultura da espécie - isto é necessariamente transformador.

É claro que não estou dizendo que todo jovem é naturalmente de esquerda, marxista e revolucionário. Para que a juventude assuma uma postura revolucionária é preciso Liberdade, Democracia e Espírito Crítico. É fundamental para a continuidade e construção da história revolucionária que o PT exerça plenamente Liberdade, Democracia e Espírito Crítico.

Como disse anteriormente, minha geração não lutou mais ou menos que as anteriores. Porém, sinto um enorme orgulho de ter participado daquela que inaugurou um novo período de liberdade, que conseguiu resistir à repressão e ergueu entidades de exercício do poder democrático.

Quando eu era adolescente atravessava o rio pelo lado de fora da ponte, me equilibrando. Uma ponte nos dá agilidade para ir à outra margem, mas eu rejeitava a segurança que ela proporcionava. Eu preferia a aventura de olhar o rio, ver e me sentir enfrentando suas águas ameaçadoras, e, chegando ao outro lado, além de vitorioso, me sentir com energia e conhecimento do ambiente para realizar a ação que me propunha: na época organizar o time de futebol e vencer a equipe adversária. Hoje continuo fazendo a mesma coisa, com os jovens de todas as idades.

Jorge Perez é presidente do PT Pernambuco